Meu pai teve muitas "Brasilias". Entre tantas de tantas cores e modelos, pois ele tinha oficina e trocava muito de carro, lembrei-me de uma modelo 1978, cor de creme (bege Jangada, se não me engano), parecida com a da foto, que tínhamos desde 1982. Uma coisa que sempre gostei de fazer quando moleque foi ficar ao volante, girando-o sem parar, imaginando curvas e obstáculos, mal alcançando nos pedais. A noite ficava mais emocionante, com o painel ligado. Ficava horas brincando de motorista. Outra coisa que gostava de fazer era ouvir fitas k7 dentro do carro, imaginando viagens por estradas paradisíacas. Lembro-me de um colega do meu pai que vendia fitas k7 gravadas (já existia pirataria em 1982, sim) e meu pai comprava fitas aos montes. De muitas que ouvi dentro de carros (Roberto Carlos, Benito di Paula, Nelson Gonçalves, Julio Iglesias), lembrei da fita do Michael Jackson que ouvi dentro dessa Brasília creme 1978, nesse início dos anos 80. Lembro como se fosse ontem, talvez pela idade que eu tinha na época (10 anos, mais ou menos) ou pelo poder da música negra dançante do cara. Thriller já havia estourado nas rádios, e seu clipe já havia passado no Fantástico. Era a febre do momento. Beat It, Billie Jean, Baby Be Mine eram sucesso absoluto entre todos. Nas escolas nós, a molecada, dançávamos arrastando nossos Kichutes e Bambas para trás, como se dançássemos na lua. Todos colocavam a mão na virilha, fazendo movimentos ritmados para frente e para trás com o quadril. Era energia pura. Lembro como se fosse hoje o dia em que ouvi a fita do Michael dentro da Brasília creme. Fiquei encantado, e ouvi a fita umas duas ou três vezes sem parar, viajando por estradas desconhecidas. Recordo que ouvi muitas vezes a música The Girl Is Mine, com o Paul McCartney, e foi a que mais me comoveu. Mas era impossível não gostar de quase todas, era eletrizante, simplesmente hipnotizante. De todas as Brasílias que meu pai teve essa marcou um pouquinho mais. Simplesmente porque eu tinha 10 anos (mais ou menos) e ouvi a fita k7 do Michael Jackson nela. Parece bobinho (como diz um amigo meu), mas essas coisas marcam. Talvez por isso eu tenha chorado quando soube que o cara da fita morreu, aos 50 anos, deixando essas e outras lembranças para quase o mundo inteiro. E para não esquecer, a Brasília foi fabricada no Brasil entre 1973 e 1982 pela Volkswagem, foi um grande sucesso de vendas (apesar de não ser muito vista hoje em exposições) e sua produção foi interrompida graças principalmente à chegada do Gol, em 1980.
Ouça a música The Girl Is Mine:
Veja o comercial de TV da Brasília: