sábado, 3 de outubro de 2009

Série Jamanta: Passat


Acostumada com a geração a ar, a Volkswagem lançava enfim um carro com motor refrigerado a água no Brasil, o Passat. O nome é derivado de um vento que sopra na Europa, como inclusive muitos outros automóveis como o Santana e o Bora. Seu lançamento foi em setembro de 1974 e era considerado o carro mais moderno do país. O público levou um tempinho para acostumar a ver um VW refrigerado à água com naturalidade, mas aos poucos essa pulga atrás da orelha foi saindo. Seu sucesso foi incontestável, seu estilo juntava características esportivas e clássicas, e sua tecnologia estava bem à frente de tudo que conhecíamos nacionalmente. O Passat que me recordo bem era um modelo 1977, bege, de um tio. Em 1977, ainda morando em São Paulo e prestes a completar 5 anos, meu pai decidiu mudar para São Vicente. Ou melhor, decidiram por ele. A mudança foi trazida por um caminhão, juntamente com meu pai que conhecia o dono. Eu, minha mãe, o Mimi (um gato bege), meu avô e meu tio viemos no Passat, juntamente com objetos e roupas que couberam tranquilamente no porta-malas do Passat, amplo e jeitoso. O Mimi veio dentro de uma caixa de papelão. Lembro muito bem de alguns detalhes dessa época, apesar da pouca idade. O mês era agosto, ano em que um tal de Elvis faleceu, apesar de dizerem até hoje que ele não morreu. O meu tio chegou na minha casa, em São Paulo, e o carro brilhava. Meu impulso de garoto foi se esticar para espionar o carro pelo vidro da janela. Lindo, novinho, cheiroso. Entramos e seguimos viagem pela pista da Anchieta, ouvindo Roberto Carlos no rádio. Meu pai já havia saído, bem mais cedo. O Passat, nas sinuosas curvas da Anchieta era um espetáculo, deixávamos vários carros para trás (meu tio gostava de pisar, ainda mais com um carro novinho daqueles), contei muitos Fuscas, DKWs, Corcéis, que eu olhava pelo vidro traseiro ficando distantes. Chegamos a 140 km/h sossegado, com aquele motor dianteiro longitudinal, de 4 cilindros em linha (diferente dos outros VW), com comando de válvulas no cabeçote acionado por correia dentada com 65 cv de potência e 1.5 litros de cilindradas. Quando chegamos em São Vicente o choque foi inevitável. O lugar era muito pobre, com ruas de terra e esgoto a céu aberto. Crianças pobres juntaram para ver o carro novinho e algumas não contentes em ver com os olhos colocavam as duas mãos nos vidros, deixando marcas pegajosas, curiosas. Parecíamos ETs desembarcando em algum planeta distante. Nem sinal do meu pai, e não porque o Passat era veloz e eficiente nas curvas, com tração dianteira e juntas homocinéticas, que davam melhor desempenho à direção, mas porque meu pai e o dono do caminhão gostavam de "conversar" em botecos bebendo alguma coisinha. Chegaram de noite, enquanto eu, minha mãe, meu avô, meu tio e o Mimi havíamos comido no chão, e eu havia dormido em cima de algumas roupas depois de chorar até não aguentar mais. Quando meu tio foi embora, ainda ouvi o barulhinho gostoso do motor 1.5 do Passat, e até hoje tenho um carinho especial por esse carro. Sua produção foi interrompida em 2 de dezembro de 1988, com aproximadamente 600.000 veículos produzidos e muitos fãs espalhados pelo mundo.
Fonte:
www2.uol.com.br/bestcars/classicos/passat
Foto: Juliano Vetachi

3 comentários:

  1. Pese às diferentes referências, essas histórias me fazem recordar um chevette branco que meu tinha, ano 79, o mesmo do meu nascimento. A gente viveu altas aventuras com ele depois que meus pais se separaram, meu pai ia com ele e buscava eu e meu irmão prá irmos no Rebouças ou no Parque do Peixão! Era bacana! Hoje eu levo meu filho prá passear num logan vermelho e não consigo sentir que ele vai lembrar desse carro como eu lembro do chevette branco, porque as coisas hoje são mais descartáveis e isso me dá uma certa pena. Melhor parar por aqui antes que a nostalgia se transforme em lágrimas.

    ... o resto é silêncio!

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  2. Anônimo, o próximo da Série Jamanta é o Chevette. Inclusive, o Chevette branco. Abraço.

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  3. O do meu pai era um branco que tinha duas finas listras negras horizontais que cruzavam ambas as laterais desde a lanterna dianteira até a traseira - se bem que a ação do tempo fez com que as listras negras fossem pro saco.

    ... o resto é silêncio!

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